- Não suba! – ouvi uma voz.
Indaguei-me: - porque?
O silêncio se fez. No alto, no meio do caminho.
Abaixo: terra firme. Ao alto: a totalidade. Um sonhador.
Na circunferência quadrada, que se estreita a cada passo, o medo se propagou em meu corpo. Corpo sofrido que clamava por piedade. Que gritava. Olhos distantes, sem qualquer ponto de fuga: o pânico.
O vento suavemente tocava meu rosto. A poeira ergue-se. Minha visão se embaraçou. Novamente, uma voz inexpressiva ressurgiu:
- Onde pensas que vai, ser humano?
Caído, ferido e indefeso, num mundo impróprio, desconhecido pela vida humana, tento gritar. Mas é em vão.
Minha fala se perde no vazio. Meus olhos não são mais os mesmos: agora, cegos. Não ouço a brisa acariciar minha escalada.
Estou só. Estraçalhado. Sem ninguém.
Ainda me movendo, minhas mãos se perdem no meio do nada: do desconhecido. Com os dedos esticados ao alto, posso sentir o vento. Meu caminho é trilhado pelo humilde e generoso toque das mãos. Continuo a subir.
Se rastejando pelos infinitos corredores sem paredes, paro, bruscamente. Não há mais subida. A altura se elevou ao máximo. Estou num lugar plano e iluminado. Uma luz. Eu sinto. Uma presença. Sinto.
No cume da pirâmide sou erguido. Eu cresço. Me fortaleço. Minhas mãos são agarradas. Meu corpo abraçado. O calor: o fogo. Pés firmes: a terra.
No vazio do meu corpo, um nobre casulo nasce. Colorido. Único. Logo se abre. Uma borboleta voa dentro do meu ser. Bela, expressiva, viva. Em meu peito ela vive: alcançando seu vôo.
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